quinta-feira, março 10, 2005

O novo moralista (2)


O novo moralista defende agora o estado social, a diminuição das diferenças entre os ricos e os pobres. Os papões agora não são as antigas tentações do demónio. Anteriormente, o moralista visava em grande parte controlar a própria intimidade das pessoas, das suas ambições, da sua sexualidade. Agora, o moralista tenta controlar a liberdade social do indivíduo. Por isso, as virtudes que se passaram a apregoar são sociais e os papões também. As novas tentações do demónio são o consumismo, o capitalismo selvagem e o neo-liberalismo.

A táctica do moralista, independentemente da época, é utilizar o medo, a promoção da ignorância, da inveja mesquinha, da ilusão. Para ele, todas as fumaças têm um fogo terrível por trás, nem que para isso tenha que ser ele a atear o fogo. O moralista não é um hipócrita que mente de forma errática. O moralista é um hipócrita que mente sempre com alguma verdade auxiliar.

O moralista de antanho aludia aos perigos, reais, do que pode acontecer quando os costumes íntimos são demasiado desequilibrados. Vidas degradantes, que se podem propagar aos filhos inocentes, marginalização, criminalidade. São perigos reais, aos quais o moralista se socorria para propalar a sua doutrina. A ilusão que o moralista dava era ter ele a solução para estes problemas. Nas sociedades modernas, este moralista já foi desmascarado de várias formas. Sabemos nós que muitos moralistas estavam longe de cumprirem as virtudes de quem eram arautos. Sabemos também que muitas das soluções que eram impostas eram mais um ajuntar de lenha à fogueira, agravavam o problema ao invés de o resolver. Mas também, criou-se nas sociedades modernas um novo valor, o da liberdade individual, e a opinião geral é que ninguém tem que se meter na vida privada dos outros.

Por tudo isto, o antigo moralista, e ainda há muitos deste género, não é respeitado pelas novas gerações, nem sequer temido. O novo moralista é ignorado, repudiado ou motivo de chacota para a juventude. E não só. Pessoas mais velhas, que antes chegaram a temer este tipo de moralista, agora também começam a desprezá-lo. Contudo, o novo moralista está cá para o substituir.

(Cont.)

MC

|