sexta-feira, março 04, 2005

Público e privado


Há uma curiosa forma de pensar em relação às liberdades públicas e privadas. Não vou dizer que se trata de um problema exclusivo português, talvez até seja uma condição herdada da nossa evolução em “matilha” durante milhões de anos. Tentando clarificar, estou a pensar à pouca importância dada às liberdades individuais e à total libertinagem dos executores públicos, que passa incólume.

Os exemplos são vários. Deparo com frequência, mesmo em muitas pessoas instruídas, com um extremo autoritarismo em questões que deviam ser apenas do foro privado. Por elas, acabava-se por decreto um determinado número de coisas. Muitas vezes, o critério é apenas do género “Não gosto”, “Irrita-me”, “É para idiotas”, e face a isto, proibiriam, se pudessem, programas de televisão mesmo em estações privadas, venda de certos livros e toda uma série de direitos de reunião, culto, entre outros. Para elas, a liberdade é uma coisa má. E pensar que isto são apenas achaques de partidários do Estado Novo, está longe de ser verdade. Muitos esquerdistas revolucionários deixam escapar, amiúde, desabafos do género: “Não fizermos a revolução para se chegar a estas poucas vergonhas.”

O que é inconcebível neste tipo de atitudes é a pretensa arrogância existencial, de pensar saber o que é melhor em termos morais e estéticos, a ponto de poder impor esses valores a todos os outros. Paradoxalmente, há todo um outro tipo de hábitos e práticas que denominaria públicas, sobre as quais a passividade é enorme. Entendo aqui as actividades que possam limitar a liberdade de terceiros e, de forma mais grave, aquelas que envolvam a utilização de dinheiros públicos. Por muitas “bocas” que se digam, somos bastante passivos com coisas do género: Condução perigosa, excesso de álcool em actividades de risco, ruído de vizinhança, fuga aos impostos, má gestão de autarquias, cunhas, etc. Por alguma razão, damos mais importância se o nosso vizinho pertence tiver uma religião “estranha” ou vestir de forma que não nos agrada, mesmo que ele nunca nos tenha incomodado.

MC

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1 Comments:

Blogger Menina Marota said...

Como corcordo contigo!

Mas, sabes...essa intelectualização, que cada vez mais, certas pessoas se arrogam no direito de ter, não retira a inocência do olhar de muita gente, sem maldade, sem traições, sem ambições de poder, que vivem dentro de si, o mistério de serem Povo...
Povo, que não teve direito a existir, que não teve direito a bolsas de estudo, que não teve direito a nada! Mas cresceu! Cresceu e deu Filhos que se tornaram humanos, sensiveis, coerentes.

Gosto de te ler.

Gosto do sossego deste mundo de palavras e opiniões...

Um abraço .-)

http://eternamentemenina.blogs.sapo.pt/

12:35 da tarde  

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