quinta-feira, março 03, 2005

A ilusão da estabilidade (3)


E chegamos a Sócrates e ao PS. Vendida a ilusão da estabilidade, haverá outra solução que não desmentir isso aos poucos? Nos últimos anos multiplicaram-se os estudos sobre o peso do Estado e como isso pode colocar o país na ruína. Tem isso sido também tema para vários artigos em jornais de referência e naturalmente também nos blogs.

Mas quem, na prática, está disposto em abrir mão? Serão as centenas de milhar de trabalhadores que vivem à custa o erário público? Serão os aparelhos partidários de PS e PSD que anseiam pelas colocações naqueles locais dourados? Serão os sindicatos que se divertem por saberem do seu poder de bloqueio? Serão aqueles grupos de empresários que respiram subsídios e vestem o casaco do proteccionismo do Estado?

Ninguém mostra disposição em abrir mão. Junte-se a isso ainda que constituição é contra o abrir mão, e temos uma turba de intelectuais que não se cansam de divagar em favor do imobilismo e da superioridade moral do niilismo. Para sacudir a água do capote, há uma procura mesquinha de bodes expiatórios, do género de fazer crer que tudo seria melhor de os deputados não ganhassem tanto e tivessem reformas menores. Costumava dizer-se que os artistas só eram profundos se fossem muito infelizes, agora pouco falta para dizer que os políticos só serão capazes se viverem num T0 sem aquecimento central.

Tenho lido de forma repetida que é uma questão de exemplo, de moralidade. Quando os portugueses passam dificuldades, não podem os políticos gastar de forma despudorada. Mas os portugueses acham que os políticos são exemplos para alguma coisa? Acho que estas questões seriam interessantes se estivéssemos numa situação desafogada, mas agora o essencial é estancar a hemorragia, e não estar preocupado com as rugas na testa. Por muito que se diga que os políticos são todos iguais e só querem roubar, sabemos que não é assim (exceptuando as autarquias...).

E aqui volto a centrar-me em Sócrates e no PS. Tentará este governo estancar a hemorragia ou disfarçar as rugas? Penso que mesmo que Sócrates queira estancar a hemorragia, não tenha muita margem de manobra para o fazer. Se continuarmos com uma degradação suave, ninguém se importará muito, nem verá razões para abrir mão. Até pode acontecer o contrário, à medida que a escassez se fará sentir, a tendência para apertar bem a mão pode subir.

Talvez a solução venha do exterior, sermos abalados. Imagino que se a China explodir mais cedo do que se julga, assim como outras potências emergentes, os portugueses, bem como toda a Europa, sintam um choque maior e se sintam motivados a mexerem-se. Mas mesmo se conseguirmos reagir a tempo, não é muito reconfortante saber que apenas ajustamos a agulha por desespero de causa.

MC

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1 Comments:

Blogger Menina Marota said...

Eu creio que até ao Verão, Socrates e o PS irão vender, a ilusão do inicio da estabilidade.
Eles são pródigos nisso. A política deles, sempre se centrou à volta disso. Eles não têm a coragem suficiente de dizer as verdades e, de assumir as consequências que daí puderem advir.

Vamos voltar ao sonho cor de rosa. Eles não irão ao desencontro dos grupos económicos com maior força e protagonismo, porque eles cedem, para manter uma imagem de estabilidade.

O País vai-se atolando, pouco a pouco. Isso será previsível a médio prazo.

Eu sou como S. Tomé... ver para crer, especialmente, no que eles irão fazer nos próximos 6 meses...

Jinho :-)

http://eternamentemenina.blogs.sapo.pt/

10:55 da tarde  

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