A ilusão da estabilidade (1)
Nas eleições de 20 de fevereiro os portugueses aparentemente rejeitaram a possibilidade de reformas liberais. Os portugueses têm vindo a ganhar a ilusão da estabilidade. Recorde-se que Salazar subiu ao poder precisamente por ter dado estabilidade ao país, e essa estabilidade manteve-se durante quase 50 anos. Mas era uma estabilidade num ponto baixo, insustentável face aos exemplos do mundo exterior e, claro, face aos naturais anseios de liberdade.
Com o período que se iniciou com o 25 de abril de 74, aparentemente, deu-se um corte na estabilidade. Contudo, uns anos depois, voltou-se à mesma estabilidade, caracterizada por um estado forte. A riqueza aparente cresceu bastante. A família típica portuguesa que há 30 anos não tinha carro, não passava férias no exterior e tinha hábitos frugais, hoje luta contra a obesidade, frequenta ginásios e clínicas particulares, tem 2 ou 3 carros, casa própria, e habituou-se a viajar, por vezes para o estrangeiro. E sabe que tem um emprego seguro...
Por muito que nos queixemos, adoramos esta estabilidade que pensamos conseguir associar à progressiva riqueza. Por isso, é natural que os portugueses nem queiram ouvir falar em reformas liberais, que não prometem estabilidade alguma. Ainda por cima, tão mal explicadas que são essas reformas e tão diabolizadas que elas são um pouco por todos.
Mas a riqueza que temos tem muito de ilusório. Começa logo por não estar paga. Carros e casas foram comprados pensando num estabilidade eterna. Os portugueses investiram o que não tinham em conforto e na imagem. Não é preciso ser um génio para perceber que daqui resultam duas consequências óbvias. Quem investe o que não tem, mais tarde ou mais cedo vai ter que pagar a quem lhe emprestou o dinheiro. E uma vez que o investimento não foi produtivo, não vai ter com que pagar.
MC
1 Comments:
Bom dia... A leituta já habitual...ao ler-te, parece-me estar a ouvir a... mim própria!
Por isso o meu comentário anterior, de que não me deixo governar por ninguém! É isso mesmo! Estamos de acordo, portanto...
Vá de férias... cá dentro... e, Portugal é tão belo!
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