segunda-feira, janeiro 16, 2006

Governo e confronto

Em momentos difíceis, surgem vozes a pedir consensos. Imagino que, para estes, como se anda à deriva ou por maus caminhos, o consenso é essencial para ganharmos um rumo e todos remem na mesma direcção. Contudo, isso implica que aqueles que querem remar em outras direcções, mesmo sem prejudicar qualquer pessoa, sejam impedidos de o fazer. Por isso, há quem peça não consensos mas sim confrontos.

Eu diria que precisamos de consensos e confrontos. Actualmente temos demasiadas forças imobilistas, sindicatos, ordens profissionais, função pública, os media, intelectuais caviar, empresários subsídio. Todas estas forças, implicitamente defendem uma noção de governo. Mas em que consiste ela? Em tempos antigos, os chamados simples, gente do povo, regiam-se essencialmente por directivas superiores. Não eram donos das suas vidas, por vezes nem da própria morte. Não era concebível a ideia destas pessoas terem uma liberdade mais alargada.

Com o advento da democracia levada à prática, os simples passaram a ter uma palavra nos dizeres do poder. Moldaram-na a ponto de tornarem a demagogia a única característica horizontal a todo o espectro partidário. Contudo, esta partilha de poder deu-se por meios representativos, o que não é um cenário muito diferente da via totalitária, uma vez que a liberdade de cada um ainda está sobre a alçada de um governo, em grande parte.

A crise das sociedades modernas mais não é do que o vislumbrar de uma alternativa superior, que é transferência de liberdade efectiva para as pessoas. E isso implica o desaparecimento de uma entidade que nos governa. Por isso, a sociedade precisa de confronto mas de um confronto muito especial. Aqueles que acreditam no seu auto-governo precisam de se confrontar com aqueles que querem impor um governo para todos.

Os que defendem o auto-governo não defendem, necessariamente, o desaparecimento do Estado. O Estado deverá continuar (ou começar) a garantir que os atropelos à liberdade sejam limitados e os contratos firmados sejam cumpridos. Entidades que governem grupos de pessoas devem poder existir desde que os governados adiram ao regime de livre vontade. Quem assumir o seu auto-governo, mais que todos os outros, deverá saber assumir a responsabilidade pelos seus actos e pelas suas escolhas.

MC
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