segunda-feira, outubro 03, 2005

A idade de ouro dos blogs

Quantas vezes ouvi os saudosistas dizer que no passado é que era bom, em relação a uma miríade de assuntos. Os pioneiros têm o privilégio de sentir pela primeira vez o cheiro da terra virgem e inexplorada. Espetam os seus marcos, primeiro de forma aleatória, depois com uma consistência maior. Será que a idade de ouro dos blogs é a inicial? Penso que há razões para crer que sim. Não por ser o tempo dos pioneiros. O início de algo é muitas vezes o mais excitante de todas as alturas, mas as melhores criações costumam ser tardias.

Esta pode ser a idade de ouro dos blogs por razões de contexto. Os blogs surgiram na mesma altura em que surgia o terrorismo apocalíptico, em que a globalização se tornou mais abrangente que nunca, em que a China acordou, em que os sistemas sociais europeus tidos como os mais justos começaram ser postos em causa seriamente, em que paises são invadidos sem saber se serão também libertados. E em que todas as grandes culturas foram questionadas e começou a surgir pela primeira vez algo que se pode chamar de opinião pública mundial.

A cultura americana foi posta em causa pelas suas fragilidades na segurança. Pela suposta falta de credibildiade dos seus políticos. Foi posta em causa por ser a dominante, pela inveja que suscita, por ser analisada à lupa e distorcida ao microscópio. Mas o seu próprio domínio foi posto em causa por outros poderes emergentes.

A China, mas também a Índia, emergiram e terão a necessidade de se redefinirem. A sabedoria vinha do ocidente, diziam os chineses referindo-se à Índia. A China foi um segundo foco de influência para o extremo-oriente. O século XX mostrou estes dois países muito abaixo das suas potencialidades, que agora despontam e já os chamamos de invasores.

A Europa está a ser questionada, apesar de não querer ouvir. Refugia-se em posições fáceis de superioridade moral, que apenas escondem o seu carácter niilista. Os sistemas de “justiça” social, de que os europeus se orgulharam e queriam dar ao mundo como exemplo, estão a pontos de sofrer uma implosão semelhante à da União Soviética. Criados de forma ingénua, para um mundo muito diferente daquele que temos hoje, mostram uma gritante discordância entre aquilo que dizem obter e aquilo que de facto provicenciam.

África espera. Espera que os países desenvolvidos dêem menos ajuda mas coloquem menos intraves. Espera menos boas intenções mas mais lealdade. Espera que acabem as armas como utensílios e cheguem as leis e as instituições de suporte. Alguma esperança renasce com sinais aqui e ali. Esperemos para ver...
A américa do sul é talvez a região do planeta que menos se questionou. Continua a insistir nos homens providenciais, nas soluções “justas”. Continua a ver o céu e o paraíso nos EUA e na Europa. Continuam sem coragem para assumir os seus destinos. Um fatalismo alegre, talvez mais triste que o de África.
MC
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