quinta-feira, outubro 06, 2005

Liberais desnorteados

Um pretenso professor universitário (assim se vê o estado deplorável do ensino em Portugal) afirmou que em Portugal o espírito neoliberal tem inspirado as políticas de défice zero. Esta pessoa dá pelo nome de Luís Fernando e é lógico que os blogs liberais não podiam deixar passar em branco tal disparate sem pés nem cabeça. O que desiludiu-me foi a forma como os liberais reagiram, não colocando a nú logo aquilo que há de mais aberrante nesta afirmação, antes de entrarmos no campo político.

Luís Fernando crítica o défice zero, ou seja, defende que quem faz as despesas não deve pagar as contas. Defende a irresponsabilidade e o deixar os problemas para as próximas gerações. De forma mais banal, defende que se compre fiado. Em outros tempos, pessoas que tinham comportamento assim dizia-se que não tinham honra.

Depois de feito este reparo, poderia-se entrar no campo político. Mostrar que os problemas que temos não se deveram a políticas liberais (muito menos neoliberais), porque simplesmente nunca as tivemos, mas apenas socialismo e social-democracia (estatismo, para simplificar). E claro que a frase é de suma estupidez porque fala de um défice zero, como se algum dia estivéssemos perto disso. Aquilo que mais ouvimos falar foi apenas em ficar abaixo dos 3 % e apenas porque há uns malvados em Bruxelas que nos castigam. E mesmos os poucos que defendiam o défice zero, como que envergonhados, ressaltavam logo de seguida que era apenas um meio para manter o Estado Social.

Concluindo: A paranóia anti-liberal é a pior doença deste país. A infecção é grave mas o doente cerra os dentes para não tomar o antibiótico. Os liberais parecem-me um pouco resignados ao seu insucesso (não, não estou a defender a criação de um partido liberal) e à sua influência quase nula na sociedade. Por mais interessantes que sejam os textos liberais, parecem apenas destinar-se a uns quantos curiosos (para admirar ou insultar).
Eu próprio já me resignei que é impossível fazer as pessoas pensarem racionalmente sobre politica, ciência, futebol, sexo e sociedade em geral. Contudo, se olharmos para o desenvolvimento português, não podemos negar que ele tem sido no sentido defendido pelo liberalismo. Ou seja, mesmo com consecutivos políticos anti-liberais, isso não consegue parar a avalanche de acções individuais, cada compra que fazemos, adiamos, cada euro que poupamos, cada escolha que fazemos, cada risco que tomamos ou não, cada acto egoísta ou altruista. Em suma, o liberalismo não diz nada aos portugueses, talvez por ser demasiado abastracto, talvez por ser demasiado simples, mas de forma involuntária cada uma das nossas acções vai consolidando uma sociedade mais liberal.
MC
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