sexta-feira, novembro 25, 2005

A influência dos blogs

Os blogs serão uma das maiores contribuições para a discussão sobre a política e a sociedade desde sempre. Temos agora o poder de distribuir informação globalmente, que pode ter origem em qualquer parte do mundo. E temos uma quantidade de cérebros pensantes como nunca antes existiu. Contudo, nos últimos dias tenho interrogado-me sobre as limitações dos blogs, pensando em duas situações, uma concreta e actual, outra mais abstracta e intemporal.

Uma das situações tem a ver com o novo aeroporto da OTA. Quem tem lido o que se tem escrito nos últimos meses nos blogs sobre a OTA, não pode deixar de sentir alguma apreensão pelo projecto. Mais que isso, deveria estar completamente arrepiado pelas justificações dadas pelo governo, de uma infantilidade que nos deixa sem palavras. Mas ao ver uma ou duas reportagens nos telejornais percebo que foi um esforço “blogoesférico” em vão. Umas maquetes, uns números impressionantes sobre o novo aeroporto, dar uma sensação de grandeza, um pouco de pão e circo, enfim, bastam para toda a sociedade esquecer as dúvidas sobre a racionalidade do projecto e embarcar nele de cabeça. Os portugueses embarcaram na OTA pela mesma razão que a mulher deprimida vai às compras. Os blogs nada podem fazer para mudar a natureza fraca dos portugueses.

Outra limitação dos blogs tem a ver com a discussão que podem promover. Apesar de existirem excelentes bloggers, raramente se faz alguma discussão decente. Há muito que tenho tentado perceber a razão de muitas pessoas capazes não se meterem nestas discussões. Sendo eu naturalmente positivo, não quis admitir o óbvio. Não é possível fazer discussões sérias porque elas estão minadas pelos medíocres. E são medíocres porque não sabem ler português, ou porque não dominam as regras elementares da lógica ou simplesmente estão de ma-fé. E ainda por cima, têm sempre uma energia ilimitada que só prova que Deus não existe ou a Natureza é muito perversa.

Penso que a contribuição dos blogs será muito limitada, porque a maioria das pessoas prefere andar com areia nos olhos (especialmente os nossos intelectuais). Talvez sirva para formar, a médio prazo, uma elite que andava dispersa e se pensava isolada ou, pior, que nem acreditava nas suas capacidades.

MC
|