quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Uma ajudinha no diálogo multicultural

Nota: Este post é de extremo mau gosto e não deve ser lido por pessoas sensíveis e/ou inteligentes.
Há uns dias reparei num cartaz junto a uma das estradas mais movimentadas de Setúbal, que me deixou curioso. Fazia publicidade a um lubrificante “anal-anestésico”. São daquelas coisas que nos fazem pensar na evolução das sociedades, que passam a achar normais comportamentos antes tabu. Mais recentemente, pensei que tal produto também seria de grande utilidade para aqueles que defendem a “compreensão” em relação às manifestações do Islão radical, que usaram como pretexto uns rabiscos feitos na Dinamarca. Se o medo os leva a não querer resistir aos radicais muçulmanos, pode ser que este produto torne esta submissão menos dolorosa.
MC
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terça-feira, fevereiro 07, 2006

Liberdade de ter medo

A primeira vez que vi os tais rabiscos feitos na Dinamarca, não liguei muito. Não sabia o que era, fui apanhado meio desprevenido. Pareceram-me tão banais que não me chamaram a atenção. A discussão sobre este assunto, metendo a liberdade de expressão e os seus limites, tem sido longa para tão pouco material. Explico a duração da discussão por dois factores, ligados àqueles que apelam, mesmo que veladamente, à censura. Há os que aplaudem tudo o que seja anti-ocidental, anti-capitalista, anti-ameriricano. A esses interessa fazer render o peixe, e aproveitar cada migalha de ódio que esta discussão pode meter. A esquerda ideológica faz desajeitadamente este papel, debitando argumentos em que não acredita, porque não quer admitir que apenas tem prazer em tudo o que seja ódio aos valores “ocidentais”.

Contudo, há muitos que não fazem parte desta turba irresponsável e pedem moderação em relação ao Islão. Pois bem, eu sou moderado em relação ao Islão. Tenho em Alcorão em casa, aprecio inúmeras coisas das culturas muçulmanas, reconheço os períodos históricos em que o Islão foi uma ilha de tolerância e conhecimento. Sei também que não é o Islão inteiro que se manifesta, porque mais de mil milhões de pessoas fariam uma estrondo bem maior. Mas esse Islão moderado tem sido muito passivo, e quando se mete a questão do terrorismo, isso passa a ser conivência.

O ocidente está dividido e infelizmente entre duas opções nada boas. Parte está borrada de medo. Quando nos dizem que não devemos provocar o Islão, apenas estão a dizer “Tenho medo”. Outra parte ficou inflamada para a luta, sem analisar propriamente as consequências. Numa eventual escalada, comunidades islâmicas pacíficas no ocidente podem ser atacadas, enquanto os fanáticos ficarão incólumes.

Há que ter alguma lucidez para tentar perceber onde está o problema. Os rabiscos feitos na Dinamarca foram apenas um pretexto para radicais islâmicos se insurgirem contra o ocidente que invejam. Se não fosse isso, haveria de ser outra coisa. E de certo haverão outros pretextos que num futuro próximo servirão para o “Islão” se sentir ofendido.

O ocidente, se fraquejar para não ofender um Islão radical, irá pisar nos valores que possibilitaram uma qualidade de vida sem par. Há que ser duro com os radicais e estimular o Islão moderado a ser mais activo. Pode não resultar. Aliás, acho que não vai resultar e a possibilidade de guerra a sério não é de descartar. Aqueles que pensam que conseguem evitar um grande conflito acobardando-se, enganam-se. Apenas dão um sinal de fraqueza que poderá tornar a guerra inevitável.
MC
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sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Dinamarca vs. Islão

O assunto é conhecido. Quais os limites para a liberdade de expressão? Durante mais de mil anos o Islão não concebeu a possibilidade de representações do seu profeta. Quanto mais representações vexatórias. A questão de saber se os cartoons em causa são de bom gosto, para mim é irrelevante. O que me parece mais interessante ser pensado são duas outras questões. Deverá o ocidente acobardar-se e censurar tudo o que possa irritar o mundo islâmico? Claramente não. É um mero sinal de fraqueza, não de respeito. Eu posso achar que os tais cartoons podem ser publicados mas não deviam por serem de mau gosto. Mas só posso mostrar respeito se tiver poder de opção.

Outra questão que parece ter ficado evidente é a baixa auto-estima do "Islão". A destruição de estátuas budistas no Afeganistão não beliscou a força do budismo. Uma caricatura do Papa com um preservativo no nariz não irritou por aí além os católicos, nem todos os livros a especularem sobre a vida de Cristo que têm aparecido. O Islão reagir assim por tão pouco mostra a sua fraqueza, a sua falta de flexibilidade e mesmo incapacidade argumentativa. Isso sim, não os cartoons, evidencia um problema.
MC
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Big Bush

Várias vezes pensei em como G. W. Bush será vista pela História (ou pelo menos na maioria das versões que serão escritas). O meu palpite é que Bush nunca será avaliado acertadamente. A visão presente dificilmente poderia ser mais negra. E também mais absurda. As críticas são tantas e tão erráticas que quase acabam por se anular. Não que a actuação da administração Bush não possa ser criticada, longe disso. Mas quando ela acontece massivamente, tantas vezes dominada pela lógica da conspiração e da inveja, penso que a prazo quem irá ficar mal na fotografia serão os críticos. Afeganistão, Iraque e os investimentos em energias alternativas poderão dar fama a Bush, pela positiva.

A História poderá recordar que Bush foi o principal responsável por libertar estes dois países das piores ditaduras. A lógica da conspiração, dos negócios do petróleo, do imperialismo, irá se desfazer pela sua falta de consistência. Não será desmontada, simplesmente serão argumentos que cairão no esquecimento. Merecerá Bush ser recordado tão positivamente pela História? Talvez tanto como merece no presente ser recordado negativamente. O erro está em ver as coisas como sendo fruto apenas da decisão de uns poucos. Na realidade, o presidente dos EUA é um homem com limitações de toda a ordem e com pouco poder de manobra. Pouco do que fizer de bem ou de mal dependerá realmente dele. Mesmo que esteja nas mãos de um homem fazer guerra ou não, isso esconde o facto de não ser da responsabilidade desse homem a premência da questão. E qualquer uma dessas decisões terá consequências terríveis. Os teóricos da conspiração imaginam cenários de poder absoluto onde “eles fazem o que querem”. Nem mesmo nos tempos das monarquias absolutas assim era. Reis e imperadores estavam também dependentes dos fundos disponíveis, apoio dos nobres, condições geográficas e climáticas, actuação de reinos vizinhos, doenças, etc. E actualmente o presidente dos EUA terá ainda de contar com as sondagens de opinião, meios de comunicação social, aprovação do senado e do congresso, conselho de segurança da ONU, relações bilaterais, lobis internos, constituição americana, etc. Ao invés de ser o homem mais poderoso do mundo, o presidente dos EUA é o homem com mais limitações no planeta.

Ainda sobre os investimentos nas energias renováveis, é um bom exemplo de como se pode ficar bem na fotografia sem fazer algo realmente relevante. As motivações podem ser tanto ecológicas como geopolíticas, devido ao delicado problema político associado ao petróleo. Mas as atenções serão colocadas nas consequências. Aqui, se forem dados passos importantes nas energias renováveis, Bush ficará radioso na fotografia, quem sabe um ícone para ecologia no futuro. Mas injustamente. Porque se irão comparar os ganhos que se obterão com estes investimentos com… nada. É uma falácia estatista para sair sempre a ganhar porque o senso comum se esquece sempre de avaliar o custo de oportunidade. Esquece de ponderar aquilo que se deixou de ganhar por ter desviado fundos para este campo.
MC
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Bill Gates

Num país virado à esquerda (e bem, porque me permitiu uma adolescência pouco esforçada) a riqueza é vista como um mal a abater. Perdão, a distribuir. Por isso acho deveras curiosa a recepção ao homem mais rico do mundo. Bill Gates desperta um fascínio, como se fosse um príncipe das estórias encantadas. Todos elogiam a inteligência, o poder visionário, as acções beneméritas. Poder-se-ia argumentar que Bill Gates é diferente, e por isso deve ser visto de forma diferente. Mas quantos homens ricos não foram também inteligentes e beneméritos e, mesmo assim, a ideia geral é que os ricos são pessoas execráveis que só vivem à custa da exploração dos outros? Penso que a contradição se resolve considerando quais são os factores determinantes no formar de opinião. A lógica e a coerência apenas em alguns casos tomam a dianteira. Em geral, a inveja, o “carneirismo”, o querer ficar bem na fotografia, ditam quais são as opiniões sobre os assuntos e as pessoas.
MC
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