segunda-feira, janeiro 30, 2006

Recordando José Cid

Nevou em várias zonas do país, onde tal não acontecia há décadas. A culpa é do Bush, por não ter assinado o protocolo de Kyoto e assim ter provocado uma reacção em cadeia que destabilizou o clima. Mas ter nevado foi uma novidade que levou bastantes pessoas, que nunca tinham visto tal coisa ao vivo, a uma alegria infantil, quase histérica. Foi um presente de Inverno saudado efusivamente. Mas se foi assim uma coisa com um lado positivo, é um pouco exagerado afirmar que culpa é do Bush. Afinal o clima é algo bastante complexo e não se podem retirar relações causa efeito assim às 3 pancadas. Quando existir um furacão em Portugal, algo que nada tem de positivo, aí sim a culpa é do Bush.
MC
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quinta-feira, janeiro 26, 2006

Combate ao demo

O neoliberalismo só existe na cabeça dos seus críticos.

MC
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quinta-feira, janeiro 19, 2006

As outras eleições

Recordo as eleições presidenciais de há 20 anos atrás. Recordações vagas e certamente imprecisas, uma vez que era quase criança. Mário Soares concorreu à presidência de forma meio inesperada, o povo não gostava dele, ainda recordado do seu fraco desempenho como Primeiro-ministro. Também de forma inesperada, Soares passa à segunda volta.
Soares foi eleito à segunda volta e muitos recordam a sua célebre frase em que se dizia presidente de todos os portugueses. Essa frase, elogiada por muitos, foi um dos marcos indeléveis do paternalismo luso. E também uma boa forma de iludir o passado. Existiu uma grande polarização do país nessas eleições. O candidato da direita, na altura Freitas do Amaral, foi diabolizado pela esquerda, que conseguiu passar um receio generalizado â população. Soares foi eleito porque as pessoas tiveram medo da volta do fascismo. Baseado em contos para assustar criancinhas, Soares tinha sido eleito reizinho da nação.
MC
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segunda-feira, janeiro 16, 2006

Governo e confronto

Em momentos difíceis, surgem vozes a pedir consensos. Imagino que, para estes, como se anda à deriva ou por maus caminhos, o consenso é essencial para ganharmos um rumo e todos remem na mesma direcção. Contudo, isso implica que aqueles que querem remar em outras direcções, mesmo sem prejudicar qualquer pessoa, sejam impedidos de o fazer. Por isso, há quem peça não consensos mas sim confrontos.

Eu diria que precisamos de consensos e confrontos. Actualmente temos demasiadas forças imobilistas, sindicatos, ordens profissionais, função pública, os media, intelectuais caviar, empresários subsídio. Todas estas forças, implicitamente defendem uma noção de governo. Mas em que consiste ela? Em tempos antigos, os chamados simples, gente do povo, regiam-se essencialmente por directivas superiores. Não eram donos das suas vidas, por vezes nem da própria morte. Não era concebível a ideia destas pessoas terem uma liberdade mais alargada.

Com o advento da democracia levada à prática, os simples passaram a ter uma palavra nos dizeres do poder. Moldaram-na a ponto de tornarem a demagogia a única característica horizontal a todo o espectro partidário. Contudo, esta partilha de poder deu-se por meios representativos, o que não é um cenário muito diferente da via totalitária, uma vez que a liberdade de cada um ainda está sobre a alçada de um governo, em grande parte.

A crise das sociedades modernas mais não é do que o vislumbrar de uma alternativa superior, que é transferência de liberdade efectiva para as pessoas. E isso implica o desaparecimento de uma entidade que nos governa. Por isso, a sociedade precisa de confronto mas de um confronto muito especial. Aqueles que acreditam no seu auto-governo precisam de se confrontar com aqueles que querem impor um governo para todos.

Os que defendem o auto-governo não defendem, necessariamente, o desaparecimento do Estado. O Estado deverá continuar (ou começar) a garantir que os atropelos à liberdade sejam limitados e os contratos firmados sejam cumpridos. Entidades que governem grupos de pessoas devem poder existir desde que os governados adiram ao regime de livre vontade. Quem assumir o seu auto-governo, mais que todos os outros, deverá saber assumir a responsabilidade pelos seus actos e pelas suas escolhas.

MC
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terça-feira, janeiro 10, 2006

O rei está com frio (2)

Não sei se o ministro das finanças admitiu a falência da segurança social por sua conta e risco ou se foi uma acção consertada dentro do governo. É bom que tenha sido a segunda hipótese. Imagino que os “marketeiros” do PS tenham colocado a situação a Sócrates da seguinte forma metafórica:

«Imagine que o seu doente sofre de uma doença grave e que precisa de ser operado com alguma urgência. Contudo, este paciente tem um pavor de operações tal que, se lhe revelar o diagnóstico por inteiro, é bem provável que ele vá atrás de outro "médico" ou pior, algum curandeiro ou mestre Bambo. Por isso, inicialmente diga que há um problema mas mostre-se confiante na recuperação à base de uns paliativos ligeiros. Quando o doente se aperceber que, afinal, as suas mezinhas não estão a dar resultado, aí sim tem de lhe falar da operação como a única alternativa.»

«Mas porque razão não posso dizer logo a verdade?», riposta Sócrates.

«Para não perder a credibilidade!» Diz o marketeiro chefe.

«Mas como é possível ser credível mentindo?», replica Sócrates.

«Porque você não quer ser credível.» Continua o marketeiro. «Você quer parecer credível, o que é muito diferente. Lembre-se que parecer credível é dizer aquilo que parece verdade. Há uns anos atrás o seu paciente, na altura com outro "doutor", tinha um ar mais saudável. Você parecia credível porque afirmava que não havia doença alguma. Não pode agora mudar de opinião tão rapidamente.»

«Mas sabe», prossegue Sócrates, «às vezes parece-me mais fácil dizer a verdade ao povo, em geral pouco instruído, do que aos que me estão mais próximos, dentro no PS.»

«Evidentemente.» Continua o marketeiro. «O povo engana-se mas não é casmurro. O perigo são os intelectuais. Daí a nossa jogada nas presidências ter sido brilhante.»

«Acha mesmo que vai dar certo?», questiona Sócrates com um esgar de gozo.

«Não duvido nem por um minuto. Os seus maiores inimigos estão no PS. Qual era o seu melhor homem para a presidência?»

«Cavaco Silva…» Responde Sócrates envergonhado. «Temos visões políticas quase idênticas.»

«Mas não o podia apoiar explicitamente…»

«Nem pensar!»

«Porque o povo e, sobretudo os intelectuais, pensam que se trata de um candidato de direita e que você é de esquerda. Ninguém quer saber de comparações entre medidas concretas. Mas tem de admitir que a minha jogada foi genial.»

«Admito.»

«Tinha 3 objectivos. Eleger Cavaco, silenciar a ala esquerda do PS, representada por Manuel Alegre e abafar esse reizinho que é o nosso pai fundador. E tinha de fazer tudo isto dando a entender que o seu objectivo era exactamente o oposto.»

«Mal consigo conter o riso quando enceno esse teatro face aos media amestrados.»

«Não podendo apoiar directamente Cavaco Silva, a única forma de o eleger seria avançar com um candidato fraco.»

«Ou com dois…»

«Melhor, com dois que se anulam. Dar apoio implícito a Manuel Alegre e depois o apoio oficial a Mário Soares foi genial.»

«Confesso que de início não entendi onde queria chegar com essa manobra.»

«Repare que Mário Soares, na sua vaidade infinita, nunca conseguiria resistir a uma nova oportunidade de voltar a sentar-se na cadeira presidencial. A sua arrogância não lhe permitiria nunca perceber que se tratava de um mero peão a ser sacrificado e que já ninguém lhe reconheceria capacidades para voltar a exercer o cargo.»

«E Manuel Alegre?»

«Se o PS o apoiasse oficialmente haveria o risco de ser o próximo presidente. Mas seria uma provável fonte de bloqueio, tem convicções fortes. Já Soares pode-se enganar como um tolinho. Manuel Alegre é um segundo peão voluntário. O seu orgulho ferido leva-o a pedir meças com o PS. O seu objectivo é mostrar que consegue mais votos que o candidato oficial do PS. Para ele será uma bofetada de luva branca.»

«E como será a convivência com Cavaco Silva?»

«A melhor possível. Você irá logo dar o primeiro passo metendo o rabinho entre as pernas na noite das eleições. Irá dizer que Portugal precisa de todos, independentemente do quadrante político. Que espera que o novo presidente seja colaborante mas não uma força de bloqueio. Que ouvirá as suas sugestões mas não se afastará do seu programa de governo.»

«Como se alguém soubesse qual é o programa de governo…cof, cof.»

«E Cavaco Silva fará o discurso complementar do seu, como se tivessem sido escritos em conjunto. Dirá que nos tempos que correm um presidente tem de ser interventivo. Mas que essa intervenção será feita no estrito cumprimento dos preceitos constitucionais e sem pôr em causa a estabilidade política.»

«Mas a governação não será dificultada por Cavaco Silva?»

«Pelo contrário, irá ser facilitada. Você terá todas as vantagens em colar-se a Cavaco Silva sempre que possível. Isso irá dar pouca margem de manobra à oposição à direita. Por outro lado, os sindicatos, as grandes forças de bloqueio, ficarão ainda mais isolados.»

«Mas não será demasiada proximidade com um presidente de uma força contrária?»

«Sr. Primeiro Ministro, lembre-se que o importante é o que parece e não aquilo que é. Há sempre grande margem de manobra para fazer de conta que existem divergências de fundo. Qualquer lei que Cavaco Silva envie para o Tribunal Constitucional, para ser verificada, será utilizada pelo seu governo para vitimização. Aliás, sugiro que comecemos já a preparar alguns projectos de lei absurdos para serem rejeitados propositadamente.»

«Vamos a isso!»
MC
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O rei está com frio (1)

Acordo com as notícias da rádio. O ministro das finanças diz que o actual sistema de financiamento da segurança social está esgotado. O prazo é de apenas 10 anos. Sinto que esta é uma notícia bastante significativa. Não porque seja novidade para mim. Já há muitos anos, quando ainda era um adolescente com simpatias de esquerda, ouvia rumores neste sentido. Mais recentemente, o facto para mim tinha-se tornado óbvio. Contudo, haviam ainda amplas forças na sociedade que fingiam que não era assim e o melhor era assobiar para o lado.

Ainda há poucos meses, Sócrates afirmava veementemente que não acreditava na falência da segurança social. Na verdade, era já um aviso. Sócrates garantia a continuidade do actual regime de prestações sociais se… e o “se” era uma data de variáveis que o governo iria revelando a seu tempo. Uma delas era o aumento progressivo da idade de reforma, que já estava no programa de governo, pelo que aqui há que admitir que existiu alguma coragem. Contudo, era muito pouco. Não se salva um moribundo com uma aspirina. É pouco crível que os dirigentes e ideólogos do PS não soubessem que era preciso medidas radicais. Talvez os especialistas de marketing tenham levado a melhor afirmando que se podia prometer tudo menos mudanças drásticas. É preciso compreender que não seriam apenas os eleitores que ficariam assustados. Boa parte do PS também iria entrar em pânico e ameaçar inscrever-se no Bloco de Esquerda.

MC
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