quinta-feira, setembro 29, 2005

Notícia de abertura do telejornal

E abrimos este telejornal com mais um escândalo que abala a já fragil credibilidade do governo de Santana Lopes. Rui Gomes da Silva, ministro deste executivo, é acusado de ter pressionado um membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social. Quem o afirma é Artur Portela, que alega ter sofrido pressões do ministro e em seguida apresentou demissão. A oposição já pediu uma audência parlamentar sobre este assunto, por considerar inaceitáveis pressões sobre este orgão independente. Fontes próximas do presidente da República afirmam que Jorge Sampaio pondera seriamente a demissão do governo. As sondagens mostram que a popularidade...

Esperem, isto foi num universo paralelo. Por cá, é José Sócrates primeiro ministro e Rui Gomes da Silva foi substituído Augusto Santos Silva. A notícia não foi a de abertura mas, no caso da RTP, só foi dada de forma insípida ao fim de 45 (quarenta e cinco) minutos, quando a atenção dos espectadores é bastante reduzia. Informação é poder...

MC
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terça-feira, setembro 27, 2005

A utilidade dos sindicatos

Há quem critique muitos os sindicatos. Não percebo porquê. Os sindicatos são tão úteis à sociedade como as ordens profissionais.
MC
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segunda-feira, setembro 26, 2005

Uma questão etimológica

Muitas pessoas quando ouvem ideias liberais, concordam com elas. Mas a palavra ”liberalismo” deixa o indivíduo assustado. Se meter a palavra “neoliberal” a recusa é automática.
A maior parte das pessoas quando ouve falar em nazismo ou fascismo, apresentam uma repulsa imediata. Se falarmos em comunismo, a tolerância é em geral maior (e motivo de regozijo ainda para muitos). Se falarmos em estatismo, talvez haja alguma desconfiança. Mas se falarmos em socialismo, aquilo que há em comum em todas estas coisas, a aceitação é quase total.
MC
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quarta-feira, setembro 21, 2005

Golpe mediático

O tempo de antena que as associações militares têm obtido (só ontem foram mais de 5 minutos entediantes na abertura do telejornal da RTP) por não se puderem manifestar é incomparavelmente superior ao que teriam obtido se tivessem logo saído para a rua fardados, correndo o risco, é certo, de serem confundidos com uma parada gay.

Os partidos da extrema-esquerda apoiam tais manifestações, na esperança de um novo 25 de Abril poder nascer, no caso do PCP, e no caso do BE é mesmo o fetiche pelas fardas.

MC
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segunda-feira, setembro 19, 2005

A galinha dos ovos de ouro dos autarcas

A campanha para as eleições autárquicas tem sido morna e nem mesmo a falta de vergonha na cara de Manuel Maria Carrilho a tem animado. Não têm surgido vozes com projecção nacional que tenham conseguido explicar a necessidade de fazer uma reforma do poder local. Ou reformas, para ser mais preciso. Há quem fale do excessivo número de municípios e freguesias. Outros apontam para uma regionalização de moldes diferentes da votada em refendo, que era decidida centralmente, o que é uma evidente contradição. Mas mesmo uma transferência de competências e responsabilidades parece assustar muita gente.

Para além da aversão natural dos portugueses para a mudança, especialmente quando as mudanças podem melhorar a sua qualidade de vida, são lançados alguns argumentos considerados de peso. Não se quer a multiplicação de pessoas como Avelino Ferreira Torres, Valentim Loureiro, Fátima Felgueiras ou Alberto João Jardim. O argumento, nunca dito de forma explícita, parece ser: se esta gente com o poder que tem já faz o que faz, imaginem como seria se tivessem mais competências.

Contudo, quem conhece um pouco do funcionamento típico de uma autarquia terá de pensar de forma mais abrangente. São inúmeras as estórias de autarcas e vereadores que têm apartamentos por favores que concedem a empreiteiros, normalmente com alterações ao PDM ou facilidades em obter licensas de construção. Sendo esta uma forma dos municípios obterem receitas extra, é natural que isto aconteça. Contudo, ainda pior que esta corrupção formal é a corrupção moral que o actual sistema leva. As câmaras são preenchidas por gente dos aparelhos partidários, completamente amorfos e que bloqueiam todo o tipo de esforço. Funcionários das câmaras que tentam fazer algo para melhorar um serviço deparam-se com obstáculos de toda a ordem. Processos elementares ficam meses à espera de uma assinatura de um vereador mediocre, por vezes prejudicando a vida de milhares de pessoas. E os eleitores já se habituaram a que tudo fique na mesma quando a cor partidária se altera.

Isto é aquilo que o actual sistema leva. Dar mais competências às autarquias parece apenas dar mais espaço de manobra para que tudo se degrade. Para evitar isso há que transferir também mais responsabilidades. Actualmente os eleitores de uma autarquia não se sentem muito penalizados porque têm a sensação que o dinheiro desperdiçado não vem de lado nenhum. Excepto as taxas, para o eleitor comum, o dinheiro tranferido do Estado Central e aquele que vem das licensas de construção, não lhes diz nada. Mas se as autarquias passarem a cobrar os seus impostos a coisa muda de figura. O dinheiro já não vem de negociatas com o poder central ou com empresários. Os eleitores podem fazer uma avaliação clara entre aquilo que pagaram em impostos e a obra feita.
Não que o este novo sistema provoque alterações radicais e imediatas. O mesmo autarcas mediocres e corruptos continuarão a ser eleitos, mas a dificuldades de reeleição aumentarão. Em 3 ou 4 eleições já o figurino estaria alterado. As pessoas iriam estar mais atentas aos municípios vizinhos quando estes tomassem medidas mais arrojadas e iriam reinvidicar o mesmo. Isto causaria uma tendência para aumentar a eficiência e reduzir os custos, para poder baixar os impostos, a principal preocupação dos eleitores. Para ajudar à criação desta dinâmica as eleições autárquicas teriam de ser dissociadas das legislativas. A melhor forma disso ocorrer é ter datas distintas para cada município, de forma a ser impossível fazer leituras do género “foi dado um cartão amarelo ao governo”. Por enquanto, teremos as raposas à solta no galinheiro.
MC
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segunda-feira, setembro 12, 2005

Comunicado de um sócio anónimo do Glorioso

Como sócio benfiquista, que apresentou a sua candidatura quando o clube estava em baixo e longe da perspectiva de ganhar fosse o que fosse, escrevo agora aquele que penso ser o meu único post sobre futebol na presente temporada.

Após uma época de emoções fortes, os técnicos e jogadores estão a interpretar bem a filosofia de jogo que me parece ser acertada. É preciso que nos menosprezem e nada melhor para isso que irmos lutanto por um lugar no meio da tabela, quem sabe entre os 10 primeiros se os nossos adversários directos (União de Leiria, Vitória de Setúbal, Belenenses e Académica) forem acossados por uma onda de lesões. É uma época para ganhar experiência nas competições europeias, pisando finalmente os palcos da Liga dos Campeões, tentanto lutar por derrotas honrosas. É uma época para vermos brilhar os nossos ex-jogadores em grandes clubes e vermos definhar as estrelas que chegam ao nosso.

Entre os grandes, as minhas preferências vão para o Sporting de Braga, por estar numa terra de boas gentes, de um benfiquismo inexcedível. Que Sporting e FCP possam dar alegrias aos seus sócios e simpatizantes completando com sucesso a fusão entre os clubes há tanto tempo decidida mas eternamente adiada.

MC
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sexta-feira, setembro 09, 2005

Onde está o Ribeiro Wally Castro?

O PP de PP (Partido Popular de Paulo Portas) era criticado, entre várias coisas, por ser demasiado centrado no seu líder. Admitia-se que isso era em grande parte devido a Paulo Portas, na forma como se colocava sempre na linha da frente, não deixando espaço para outros. O PP de RC (Ribeiro e Castro) consegue a proeza de ser ainda mais unicentrado. Passo a Ponte Vasco da Gama, e apanho um cartaz com RB para as autárquicas. No meio de Setúbal vejo novamente o mesmo cartaz (ao que consta também presente em outras partes do país). Mário Soares anuncia a candidatura e RC reage em nome do PP, a partir da sede do partido. Os jornalistas pedem a opinião dos deputados europeus do PP sobre determinada questão e lá está RC, em Bruxelas, a explanar a posição do partido. Será que corro o risco de começar a sonhar com RC?
MC
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Porque razão “mendismo” não soa bem?

A actuação política de Marques Mendes (MM), que arrasta consigo o PSD, tem mostrado algo que tenho vindo a constatar nas últimas legislaturas. Mesmo que os governos sejam maus, as respectivas oposições conseguem ser ainda piores. Mas MM até começou de forma promissora, ao bater o pé a alguns autarcas peso-pesados. Não avalio aqui se as decisões em si foram as mais acertadas, mas revelaram coragem, neste momento talvez a característica mais necessária a um político.

Contudo, a entrada na época dos tolinhos parece ter afectado MM de forma irremediável. MM juntou-se ao coro dos que pedem medidas avulso contra os incêndios, como se o importante fosse fazer algo, não importa o quê. Mas as últimas acções em catadupa são realmente preocupantes. Sem qualquer pudor, MM não esconde o seu xenofobismo em relação a um grupo espanhol, como se em causa estivesse a soberania nacional pela venda dessa aberrante estação de TV que é a TVI. MM reune-se depois com a centrais sindicais, UGT e CGTP, certamente para receber novas instruções. E por último, exulta Sócrates a resolver o problema do desemprego dos recém licenciados, certamente à base de medidas intervencionistas. Só faltou MM dizer: «Sócrates, não foi por isto que votei em ti! Cumpre as tuas promessas em que tanto acreditei.»

MM teve a coragem de ir a um congresso do PSD dizer que discordava da descida do IRS, decidida por Santana Lopes, preferindo uma diminuição do IRC. Seria uma medida menos vistosa mas que poderia ter um real impacto positivo na economia. Contudo, MM tem mostrado uma total ausência de ideias que possam impulsionar a economia, mostrando um carácter errático que vai quase sempre no sentido do intervencionismo, precisamente aquilo que o país menos precisa. Será que MM acha que o estatismo do PSD é melhor que o do PS?

MC
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quarta-feira, setembro 07, 2005

Não me batam que não sou pró-americano

Para quem lê o que por aqui vou escrevendo pode ficar com a ideia errada que tenho horríveis e inenarráveis simpatias pró-americanas. Declaro, por minha honra, que não tenho nada a ver com esses malvados e os considero a escória do planeta (juntamente com os ciganos, os pretos e os espanhóis). Para atestar o meu acérrimo e saudável anti-americanismo primário, ficam aqui alguns factos:

- Conduzo um carro alemão e não um Chevrolet ou coisa do género;

- Visto roupas nacionais sempre que posso e não Levis;

- Prefiro os "Stratovarius" finlandeses aos "Metallica" americanos;

- Gosto mais de pasteis de bacalhau e peixinhos da horta que de fast food americano;

- Abasteço o carro na Galp ou na BP e raramente na Shell ou na Esso;

- Prefiro o Google em português do que o Google em "amaricano".

O facto de ter um poster de George W. Bush no meu quarto e achar Luís Delgado o maior filósofo português vivo não invalida nada do que disse.
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terça-feira, setembro 06, 2005

Is Santana really dead?

Santana Lopes (SL) tornou-se em dada altura no George W. Bush nacional. Conseguiu reunir um consenso contra si, que não consigo compreender totalmente. Não digo que SL não tenha tido culpas nisso, mas o fenómeno mediático não se explica assim .Naturalmente a esquerda considerou SL um alvo a abater, até porque via nele um potencial rival, devido à popularidade. O PSD fez o papel do dirigente desportivo, que dá um voto de confiança no treinador, significando apenas que o depedimento está eminente. Os dois senadores da república, Soares e Cavaco, os dois potenciais presidentes, ridicularizaram SL a tempos diferentes. Até os liberais da blogoesfera, que considero os comentadores mais lúcidos e sensatos em termos politicos e económicos, foram demasiado lestos na avaliação de SL. Os liberais nacionais, que não procuram o mainstream e não se importam de defender o que mais ninguém defende,e têm toda a paciência do mundo para dialogar com quem os insulta, de certa forma também cederam à compulsão anti-SL (mais uma vez saliento que SL prestou-se a nisso).

O consenso parece ser que SL é o grau zero da política nacional. Permitam-me discordar. Assim de repente, vêem-me logo à cabeça dois políticos (porque é apenas de política que falo) que se têm mostrado inferiores a Santana Lopes:

- José Sócrates
- Marques Mendes

Refiro estes pelas suas responsabilidades acrescidas. Aqueles que foram tão rápidos na condenação de cada acto irrelevante de SL, mostram-se compassivos com políticos que espalham atoardas constantemente. Penso, por exemplo na última conferência de imprensa de Valentim Loureiro, que me provocou autêntico asco, ou nos discursos de Jerónimo de Sousa, que apenas podem ser classificado de uma demência aguda, ou do estilo inquisidor de Louçã.

Mas se pensar em SL como comentador político, há outros dois comentadores que se têm mostrado bem piores:

- Marcelo Rebelo de Sousa
- António Vitorino

Mais uma vez, escolho estes pelas suas importâncias como faróis que iluminam o país com a sua sapiência. Por mais fútil que queiramos ver SL, é impossível descer tão baixo como Marcelo Rebelo de Sousa, que analisa todas as situações apenas pelo impacto mediático causado, pelo sinais dados, totalmente ausente na substância. Já António Vitorino vem desempenhando um patético lugar de apêndice propagandístico do PS. O meu repeito por António Vitorino defez-se ao ver a forma desensabida como ele se limita a ser um porta-voz partidário envergonhado. Ao menos Santana lopes mostrava alguma personalidade e como comentador político mostrava ter ideias, mesmo que não fossem particularmente brilhantes.

Vi muitas pessoas considerarem uma tragédia nacional ter SL como primeiro-ministro. O que para mim é realmente trágico é estarmos servidos de politicos e comentadores bem piores que SL e todos fingirem o contrário. Não me chocam as críticas a Santana lopes, que é imensamente critícal. Choca-me a incompetência lusa em fazer uma simples comparação e em não conseguirmos dizer a verdade a nós prórios. Assim, não fazemos que alimentar os criadores de ilusões.

MC
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segunda-feira, setembro 05, 2005

O que falhou em relação ao Katrina?

Parece existir um consenso de que algo de crucial falhou em relaçao à catástrofe natural provocada pelo furacão Katrina. Falou-se das medidas estruturais que não tinham sido tomadas, de como as previsões foram mal feitas, da lenta reacção, do sofrimento a que as pessoas foram sujeitas, na desordem criada, até no racismo americano. Contudo, tenho a certeza que ocorrida a calamidade em qualquer outra parte do mundo, por esta hora todos estavam a exclamar “ooohhh” de admiração, por se ter resolvido a situação tão rapidamente e pela solidariedade envolvida. Tenho a certeza que ninguém iria fazer recriminações por as previsões terem falhado, porque afinal só Deus é infalível e como é possível prever aquilo que nunca aconteceu? Ninguém iria reclamar por não se terem reforçado os diques e diriam que às vezes a natureza é mais forte que qualquer esforço humano. Se fosse em qualquer outra parte do mundo, comentadores e jornalistas iriam recusar encontrar os responsáveis políticos, porque nestas situações o que importa é ajudar quem necessita e seria imoral tirar dividendos políticos desta situação. Em suma, o que falhou nisto tudo foram essencialmente os nossos jornalistas e comentadores.

MC
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O Purgatório enganou-se

Este blog é um local sério e não um pasquim qualquer, tipo “24 horas” ou “Expresso”. Por isso é preciso admitir o erro de análise no post anterior. Era óbvio que Louçã teria de se candidatar à presidência. Marcelo Rebelo de Sousa percebeu esta necessidade do bloco, porque partilha com o BE a ideia de que a política é tudo menos a essência, e o que importa é ir montando o circo de forma bem visível.

MC
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quinta-feira, setembro 01, 2005

Tirando o chapéu à Sic

A candidatura de Soares às presidenciais é uma das notícias do dia. Depois da patética desistência de Manuel Alegre e da mais patética ainda candidatura com desistência anunciada de Jerónimo de Sousa, a esquerda apresenta o terceiro dos seus cinco prováveis candidatos presidenciais (os outros dois candidatos da esquerda serão naturalmente Cavaco Silva e Garcia Pereira). Conseguem-nos assim, de forma convincente, fazendo esquecer por momentos que as próximas eleições serão autárquicas e não presidenciais.

Na sua última prelecção semanal, Marcelo Rebelo de Sousa tentou espicaçar o Bloco de Esquerda a avançar também com uma candidatura. É bem sabido que o bloco não ganha eleições, mas a seus financiamentos chorudos, compadrios na comunicação social e uma elevada capacidade de explanar a sua demagogia mediática, conseguem provocar estragos. Mas Soares representa também, nos dias que correm, a extrema-esquerda, e Fernando Rosas marcou presença na apresentação de candidatura do Rei da República. A peça da Sic, onde vi a notícia, termina precisamente com a reacção de Francisco Louça, que por meias palavras dá a entender o seu apoio a Soares. Critica ainda a “direita” no seu estilo “jocoso-sério”. O alinhamento do jornal continua logo de seguida com as seguintes palavras da pivot: «Humanos e chimpanzés estão mais próximos do que se podia imaginar.»

MC
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