quinta-feira, agosto 25, 2005

Bigode autárquico

Tenho reparado que boa parte dos candidatos autárquicos do PS, da zona da grande Lisboa, têm bigode. Não sei se estas escolhas de Jorge Coelho, que se removeu de pilosidades faciais, são uma tentativa de passar uma mensagem de virilidade ao eleitorado. No momento difícil quererá o PS dar a entender que tem homens duros para resolver a situação? Contudo, a principal autarquia, a de Lisboa, tem um candidato que foge a este padrão. Mas neste caso é bem sabido que mais importante que o eventual bigode de Carrilho é o buço de Bárbara Guimarães.

MC
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Ministro da Agricultura

O Ministério da Agricultura é um dos fenómenos mais curiosos deste país bem como o tutelar da pasta. O senhor ministro, quando confrontado com o facto do número de funcionários do seu ministério ser da mesma ordem de grandeza do número de agricultores deste país, não rejeita esta observação mas, espanto dos espantos, não vê qualquer necessidade de alterar a situação. As suas recentes declarações sobre os incêndios também são curiosas, vindas de um executivo adepto do estatismo. Diz o ministro que não tem sentido o actual regime de subsídios a reflorestação. Tem toda a razão, não se pode distorcer as coisas a tal ponto de ser aliciante a actividade pirotécnica.

O ministro remata ainda com a velha cantiga da floresta ser uma grande riqueza. Portugal não tem clima para ter florestas, mas isso não preocupa ninguém. Aqueles que dizem que a floresta é o nosso petróleo verde acabam por ter alguma razão. Só assim se explica que ela arda tão facilmente.

MC
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quarta-feira, agosto 17, 2005

Também é preciso elogiar o governo

Terminaram as negociações com os sindicatos da função pública. A função destes sindicatos é defender os interesses dos seus associados contra os interesses de todas as outras pessoas. Todos os dirigentes sindicais foram unânimes em condenar o governo, o que acaba por ser um grande elogio ao executivo de Sócrates.

E o nosso Primeiro-ministro está de volta. Devo dizer que não senti a sua falta, ao contrário de meio mundo que defendia a sua presença quando o país é mais afectado pelos fogos. Eu, na minha visão inquinada das coisas, não vejo grande utilidade em ter Sócrates presente fazendo viagens de helicóptero de ar consternado por cima das áreas ardidas, nem de declarações sem gravata e de ar cansado referindo que está em contacto permanente com o comando central dos bombeiros, ou ainda de discursos dizendo que os prejuízos serão contabilizados e as populações serão ajudadas na medida do possível.
MC
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segunda-feira, agosto 08, 2005

Vitorinos’s night

António Vitorino acaba de dizer que os EUA têm um modelo neoliberal. Como eu dizia no post anterior, é cada vez mais difícil encontrar pessoas na esquerda que se mantenham sensatas. António Vitorino utiliza um conceito inexistente, inventado por uma extrema-esquerda ignorante e/ou mal intencionada. Só por os EUA serem um país mais liberal que a maior parte dos europeus, não faz dele um modelo do que seria o liberalismo. António Vitorino junta-se àqueles que preferem passar ao lado dos factos, optando por descrever o mundo com rótulos.
MC
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O projecto da esquerda

É difícil reconhecer qual é o projecto da esquerda. Por todo o mundo, quando a esquerda governa e aplica as suas medidas, rapidamente a economia definha e tudo o resto é aspirado numa espiral descendente. Por isso, muitas das esquerdas no governo colocam o socialismo na gaveta. Se juntarmos a isto as muitas direitas em governo que, por complexos de inferioridade, adoptam amplas políticas sociais, surge a justificação de que já não há diferença entre direita e esquerda e “eles são todos iguais”.

A verdadeira esquerda parece estar sempre na oposição. É uma posição confortável, em que foge às reponsabilidades mas as exige continuamente aos que executam. A esquerda assume-se, deste modo, como a reserva moral da sociedade. O conservadorismo anacrónico (parece um pleonasmo mas não é) foi desacreditado e a esquerda bem pensante assumiu o seu lugar. A esquerda em oposição é uma herdeira longínqua de Lenine, com a utilização da Teoria do Insulto. Tem também a sua cosmologia negativa, explicando o mundo com sucessivas teorias da conspiração.

Percebo que nem todas as esquerdas são iguais. O problema é haver cada vez menos pessoas de esquerda lúcidas que se demarcam das correntes mais extremistas. Quem se considera de esquerda e quer manter a sua honestidade devia resistir mais a estas modas. O carácter de uma pessoa vê-se pela resistência que tem às soluções fáceis. A esquerda tem que resistir aos seus próprios excessos porque se não o fizerem não passarão de pessoas sem ideias e que o único projecto que têm é deitar abaixo projecto dos outros.

MC
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terça-feira, agosto 02, 2005

Projecto Abismo

Em Portugal há um braço de ferro entre a razão e a ilusão. Do lado da ilusão encontra-se o governo e a sua insistência nos projectos megalómanos, apresentando razões do género “porque sim”, “os outros também têm” ou ainda “no tempo do meu avô era assim que se fazia”. Do lado da razão está um grupo heterogéneo de pessoas (em termos de ideias) que apontam os múltiplos riscos de se avançar para estes projectos, sem a devida ponderação.

Penso ser um erro considerar este governo socialista uma nova versão do guterrismo. Há muitas semelhanças, sem dúvida, mas todos os governos deste país nos últimos anos têm sido semelhantes devido à forte inspiração de esquerda (mesmo os do PSD). Uma da justificações apresentadas para a OTA e para o TGV é semelhante à que foi dada pelos ministros de Guterres a propósito das SCUTS. Afirmam-nos, com toda a calma, que os maiores investimentos não serão feitos agora, os custos a sério só virão no futuro. Confesso que admiro a audácia daqueles que, mesmo em dificuldades, têm coragem de se meter em projectos que correm o risco de deitar tudo a perder. É óbvio que esta admiração está condicionada por quem arriscar o fazer com os seus próprios meios. Não é o que está em causa, quem arrisca está a fazê-lo com aquilo que não lhe pertence. Dirão que o PS tornou bem explícito no seu progrma eleitoral que iria avançar para estas obras. Certo e os portugueses viabilizaram esse programa sem qualquer margem para dúvidas, por isso serão co-responsáveis pelo que acontecer. Contudo, convém lembrar ao nosso primeiro-ministro, que embalou o país numa projecto de novas fronteiras de inpiração no presidente Kennedy uma ideia do mesmo: os políticos responsáveis são por vezes obrigados a governar contra os desejos do povo que o elegeu para que sejam tomadas as decisões mais acertadas.

Mas as diferenças em relação ao Guterrismo são outras. Não se re-edita uma governação irresponsável , que tinha um pendor errático, pró-diálogo, que optava quase sempre pelo não decidir para não ferir susceptibilidades. Aqui Sócrates marca bem a diferença. Tem um caracter autoritário, não está sempre a apelar ao diálogo. Mostra ainda ter convicções mais profundas, o que o torna mais perigoso. A muitos pode parecer que e Sócrates não é pessoa de convicções, colocado ao centro porque é aí que se ganham eleições. Isso será verdade se pensarmos no que é o centro em Portugal. O que por cá se chama centroá, significaria esquerda pura e dura (mas democrática) em qualquer outro país. É isso que Sócrates é, um democrata sem dúvida, mas com uma reduzida confiança na liberdade económica e que não hesitará a sacrificar essa mesma liberdade em troco de uma avultada protecção social.

A actuação deste governo não agradará a quase ninguém. A esquerda vê com desagrado algumas medidas de contenção, os liberais escandalizam-se por o despesismo anunciado (da direita não f alo porque não sei que isso é). Contudo penso ser mais elucidativo perceber qual a filosofia que está por detrás da actuação deste governo, aparentemente errática. Tudo fica mais claro se percebermos como classifica este governo o que é fundamental e o separa do acessório. Posto isto, as medidas de combate ao défice são consideradas acessórias, tomadas a contragosto por razões de sobrevivência a curto prazo. Não há qualquer orientação liberalizadora nesta actuação, apenas um contar/cortar de tostões para ganhar alguma folga. Porque o fundamental, na óptica socialista, é poder orientar a vida económica do país. Daí o empenho em levar por diante as grandes obras sem futuro e outros intervencionismos tipo Plano Tecnológico.
O PS talvez não esperasse uma contestação tão forte às grandes obras. Talvez acabem por ceder, especialmente no caso da OTA. Contudo, esta cedência será mais uma tranferência e o PS tentará intervir de outras formas. Até porque se não o fizer pode muito bem ser o PSD a fazê-lo quando tiver oportunidade.
MC
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