quarta-feira, maio 25, 2005

Porque razão pode o governo aumentar impostos?


Porque os portugueses o permitem. Todos falam no aumento de impostos nesta altura. Ninguém está contente, claro. Mas as discussões que assisto são do género de saber se deve-se aumentar o IVA, os escalões do IRS, os combustíveis, o tabaco, atacar os ricos, combater a evasão fiscal, etc. A debate está centrado em como obter mais receitas para fazer face ao défice.

Contudo, não é linear que um aumento de impostos consiga provocar um concomitante aumento de receita. Mas o que preocupa é a apatia dos portugueses nas questões que têm a ver com a redução da despesa. Para a imensa maioria dos portugueses, reduzir despesa passa apenas por acabar com as reformas dos deputados e cortar regalias nos ministérios. Até acho bem que altere coisas como estas e outras que tais. Mas é preciso ser muito ingénuo para pensar que estas medidas são capazes de provocar uma redução efectiva na despesa.

Não vale a pena voltar a falar no que era preciso fazer para reduzir a despesa do estado, com a concomitante redução do défice e, mais importante, com o desafogar da sociedade que permitiria um muito maior crescimento económico. Tal foi um dos principais assuntos na blogoesfera nos últimos anos. Mas a realidade portuguesa não quer saber destas coisas para nada. E por isso o governo pode aumentar impostos sabendo que os resmungos que agora se ouvem rapidamente irão terminar.

MC

|

terça-feira, maio 24, 2005

Os erros são sempre dos outros


Leio num site informativo um título de notícia que é algo como “CGTP lamenta erros sucessivos”. Durante uns segundos fico agradavelmente surpreendido, imaginando que a CGTP finalmente admitia que tinha passado todos estes anos a tomar posições erradas, contraditórias naquilo que dizem querer em relação àquilo que realmente aconteceria se fossemos seguir os seus conselhos (vulgo exigências).

Mas rapidamente perdi as ilusões, a tal ponto de nem sequer ter lido a notícia. Naturalmente que os erros que a GTP se refere são os dos outros, imagino que fale dos governos, da direita, etc. Não sei o que me passou pela cabeça por ter imaginado que havia a mínima possibilidade de um acto de humildade por aqueles lados.

MC

|

domingo, maio 22, 2005

Não é sobre futebol


Não tem nada a ver com futebol. Mas neste momento está a falar um filho da puta patife de um comentador que dá pelo nome de Rui Santos na Sic, habitual comentador de futebol neste canal. Não sei se estes comissários clubísticos irão se manter por muito tempo uma vez que a estratégia, afinal, não resultou.

MC

|

sábado, maio 21, 2005

Jorge Coelho no seu melhor


Vejo JC discursar na televisão. O homem não consegue esconder que se trata de um dos maiores grunhos deste país. Para ele é uma festa o défice “ser” 7 % e conseguir colocar todas as culpas no governo anterior. Serve logo isto de mote para lembrar que o PSD quando assumiu governo muito se queixou de ter herdado um déficit de mais de 4 %, e agora deixaram um de 7%. Acrescenta que esta gente não tem vergonha na cara e querem fazer dos portugueses parvos.

Pensei logo que JC também quer fazer os portugueses de parvos com estes discursos imbecis. Sinceramente, penso que é uma das pessoas que devia estar presa, conjuntamente com toda a tralha guterrista que talvez tenha dado a machadada final neste país. Mas passo a explicar porque razão esta pessoa que me causa asco.

JC esquece logo de dizer que o valor redondo de 7% é para 2005 e não um valor herdado. Boa parte desta estimativa baseia-se naquilo que o PS mostra que será a sua governação. Mas isto não é o ponto principal, porque não se espera que um novo governo consiga provocar grandes alterações. Este tipo de omissões selectivas são apanágio de qualquer político e não justificariam grande indignação da minha parte.

JC faz os portugueses de parvos porque omite uma parte fundamental de todo o processo. O déficit deixado pelo PS é de uma muito maior gravidade por ter sido obtido após vários anos seguidos de expansão económica, não há qualquer desculpa. Aquilo que temos agora resulta de muitos factores. Não se pode esconder o facto de ter havido uma recessão mundial e o preço do petróleo ter subido bastante. O governo anterior podia ter feito mais, sem dúvida. Faltou coragem, competência técnica, vontade.

Contudo, é de um descaramento desmedido ser JC, um dos principais responsáveis socialistas, vir criticar isto, quando o PS se opôs ferozmente a qualquer medida que ia no sentido de controlar a despesa pública. Não esquecendo ainda o PR afirmar que o déficit não podia ser uma obsessão. E ainda, ser o discurso de JC dirigido a Marques Mendes, quando este se demarcou de várias posições do anterior executivo sobre esta matéria. Tenho ainda que saudar Marques Mendes por ter afastado Valentim Loureiro da corrida para Gondomar, porque é uma espécie de Jorge Coelho do PSD.

MC

|

quinta-feira, maio 19, 2005

Euro-festival da tristeza


Apanho alguns momentos de um espectáculo deprimente, onde a Europa coloca alguns dos seus “melhores” em disputa cançonetista. Duas coisas me chamam a atenção. É evidente o fraco nível musical e a nulidade em termos de criatividade, uma vez que quase todas as canções me fazem lembrar algo que já ouvi e o original também não era já de grande valia. Como de costume, o evento está cheio de mensagens positivistas, tentando mostrar uma Europa fresca, viva e acima de tudo, com muita diversidade. E nada melhor para provar isso quando quase todos acabam por cantar em inglês.

Mas nem tudo é desolador. A canção mais votada desta eliminatória foi a húngara, que me pareceu das presentes a que menos se vergou ao facilitismo, não mostrando vergonha em assumir as suas origens.

MC

|

terça-feira, maio 17, 2005

Consensos e assobios para o lado


Um conjunto de empresários dos têxteis ameaça processar a comissão europeia. Basta ler o título da notícia para saber logo do conteúdo. Os empresários exigem a continuação da concorrência desleal que têm feito nas últimas décadas. O ministro da economia, reunido com estes patriotas que têm salvaguardado a manutenção do trabalho escravo no nosso país, mostrou-se ainda mais preocupado e fará tudo por tudo para fechar a torneira. Todos os partidos, uns mais, outros menos, defendem também as famosas cláusulas de salvaguarda (tentam salvaguardar o quê? A mediocridade lusa?) Só não defendem o bloqueio total porque a China faria o mesmo e todos ficaríamos a perder.

Depois do consenso anti-Bush, a Europa criou outro consenso contra as importações chinesas. Governos, oposições, patrões, sindicatos, intelectuais, o cidadão comum, todos concordam que as importações chinesas são um mal a evitar. O curioso é que, apesar de todos quererem fazer parte do consenso, na prática furam-no. Está na mão de cada europeu promover diariamente a qualidade de vida do seu continente, repudiando os produtos chineses. Procuremos as etiquetas “Made in China” e deixemo-las na prateleira. A maior parte dos casos são mais complicados, o produto final tem várias proveniências. Que se criem associações que façam listas a denunciar produtos com componentes chineses. Uma tal tarefa é meritória deve ser apoiada pelo Estado, não? Trata-se de serviço público.

Não o fazemos por várias razões. Os produtos chineses não se têm imposto devido a esquemas travessos. O sucesso crescente deve-se a terem adaptado-se às condições do nosso mercado, que é apenas outra forma de dizer que estão de acordo com aquilo que nós queremos ou, ainda, que são melhores para nós. Aparecem, então, outro tipo de desculpas para deter a “invasão” chinesa. Invoca-se o “dumping” social, as péssimas condições de vida dos trabalhadores chineses. É curioso o argumento moralista só ter aparecido agora. Porque não aplicá-lo retroactivamente? Se não é possível, que o mesmo critério seja também válido para outros.

O primeiro pensamento foi logo de boicotar também os têxteis portugueses. Durante décadas deram-nos o triste espectáculo do trabalho infantil e semi-esravo. E depois, o petróleo, porque vamos lá ver de onde ele vem: Ditaduras da médio-oriente, mafiosos russos, pistoleiros do Texas, comunas da Venezuela. Safa-se a Noruega, vamos só consumir petróleo da Noruega. Depois, tudo o que é espanhol também tem de acabar, porque não me esqueço quando eles invadiram Portugal. E os ingleses também não se safam por causa o ultimato. Nem os franceses, porque também nos invadiram e roubaram as obras de arte. E podia prosseguir...

Não diria que todos os consensos são maus. A abertura chinesa poderia ser um motivo para um outro tipo de consenso mais saudável. De percebermos que estamos num caminho apático, sem futuro e precisamos de mudar a agulha para sobreviver ao futuro. Não é a China a ameaça, mas nós mesmos. Reagimos de forma crispada, medrosa. Quando se torna evidente que nos devíamos abrir, a tendência é fecharmo-nos a sete chaves. A única coisa que nos safa é o egoísmo, que nos leva a romper com o consenso.

MC

|

É verdade?


Sou só que eu acho que anda um clima de demência em Portugal? Em que para muita gente o preto é branco e o outro é sempre um inimigo potencial?

MC

|

terça-feira, maio 10, 2005

Clubismo


Há pessoas que confundem o amor ao seu clube e a natural defesa que lhes está subjacente com a estupidez.

MC

|

domingo, maio 08, 2005

Dúvida


Quem anda a pagar o ordenado dos jogadores do Benfica? A SAD do FCP ou a SAD do SCP?

MC

|

sábado, maio 07, 2005

Medos


Porque razão há tanto medo de pensar em Portugal?

MC

|

segunda-feira, maio 02, 2005

Onde está a verdadeira ameaça?


A televisão pública vai promover uma debate sobre a “invasão chinesa”. Para nos apelarem para a visualização do dito programa, fazem-nos uma contextualização didáctica. Dessa forma, alarmam-nos para a previsível perda de empregos em Portugal nas empresas que não são competitivas mas também falam das possibilidades de investir neste novo mercado.

Como sabemos, em determinadas questões, o ser humano reage de forma reptiliana, e só em último caso utiliza o neo-córtex. Nesta situação, haverá a tendência ara entrar em pânico e pensar que boa parte dos nosso postos de trabalho estarão em perigo (e na verdade estão, só que devido a outras razões). Sobre a oportunidade de investir na China, ou pensando no mercado chinês, uma vez que somos um povo dado ao negócio mas não à empresa (ou dito de outra forma, que gosta de aproveitar o que fazem os outros e ficar com a parte fácil do processo), não verão aqui os portugueses qualquer janela de oportunidade.

A discussão deste assunto é repetidamente, nos media tradicionais, vista apenas nestes dois vectores. Esquecem das vantagens que já hoje temos por a China se ter tornado num grande produtor mundial. De forma directa ou indirecta, temos vindo a consumir cada vez mais produtos fabricados na China. Temos beneficiado com a descida de preços numa miríade de artigos, e essa descida só não é maior devido ao proteccionismo.

Os riscos que nos falam, da perda de empregos, são também vistos com a habitual miopia. Não negando que seja um problema a médio prazo, será que queremos manter mesmo aquelas empresas que agora estão mais ameaçadas? Tratam-se de alguns dos piores trabalhos que temos, duros e monótonos. Queremos condenar novas gerações a essa escravidão? É uma oportunidade para outros voos. Falam-nos do risco, mas alguém venceu na vida sem ter enfrentado riscos?

Esses trabalhos, que já nos pesam demasiado, serão para milhares de chineses uma oportunidade de melhoria significativa no nível de vida. Esta Europa, que se diz tão social e solidária, arranja desculpas para impedir a natural progressão chinesa. Porque será que as pessoas tem sempre medo do que lhes faz bem? A ameaça existe, mas não está nos chineses, mas neste propagandistas da ignorância.

MC

|