segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Novos links


O intermitente deu lugar ao O Insurgente. Mais um blog colectivo que, como se sabe, têm uma dinâmica incomparável aos blogs solitários.

E um toque feminino com o Eternamente Menina.

MC

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Porque razão não sou liberal

Porque, como em tantas coisas, ser liberal não é para quem quer mas para quem pode. O liberalismo não é intuitivo, não está nos nossos genes, ao contrário de teorias totalitárias que “querem” impor a felicidade pela coerção total ou pela fraternidade utópica, que derivam directamente da evolução da humanidade em “matilha”. O liberalismo foi coligido a partir de experiências com um mundo novo, em mudança, em que as relações entre desconhecidos passam a ser a dominante, e em que deixa de ser possível controlar tudo ou mesmo parte significativa das coisas.

Sendo relativamente fácil decorar os princípios do liberalismo, apreende-los é bastante mais complicado. Conseguir raciocinar com uma lógica liberal implica ganhar uma segunda natureza, porque a nossa tendência original é achar que soluções socialistas ou fascistas resolvem o assunto. Muito fácil é cair em contradição, dar uma importância excessiva à propriedade privada, ou avaliar mal as questões da liberdade, fazendo do liberalismo uma coisa sentimental, traindo aquilo que ele é. Defender o liberalismo como solução para tudo, quando muitos problemas não têm solução ou quando o liberalismo, ao invés da solução, é apenas o menor dos males. E também, cair na tentação de achar que o liberalismo é uma teoria fechada e não pode ser revista ou sujeita a novos desenvolvimentos.

Por tudo isto e mais uns quantos argumentos que se lhe podiam juntar, nunca me poderia auto-denominar liberal quando a meu domínio do raciocínio em causa é ainda tão vago e as tentações em que posso cair tão grandes.

MC

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sexta-feira, fevereiro 25, 2005

A diferença entre os homens pequenos e os pequenos homens


Já sabíamos que Marques Mendes (MM) era um homem pequeno, mas agora mostrou também ser um pequeno homem. MM criticou Santana Lopes por este ter sido populista e com uma trajectória aos ziguezagues. Por isso, propõe fazer um ziguezague à esquerda já que isso é popular...

MC

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quinta-feira, fevereiro 24, 2005

A astróloga Odete Maya Santos

Constou-me, por certos blogs, que Odete Santos (uma das personalidades mais marcantes do campo comunista) brilhou num programa televisivo, na RTP, que se queria sério. Falou sobre economia, arrancando aplausos à plateia com brilhantes atoardas, enquanto especialistas presentes não o conseguiram fazer.

Nada disto me surpreende. Se o problema fosse de índole diferente, por exemplo, com a presença da astróloga Maya e um distinto astrofísico, certamente o público iria aplaudir a carismática Maya, bocejando ao ouvir o doutor em ciências do espaço. O povo necessita de ouvir as suas verdades.

MC

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quarta-feira, fevereiro 23, 2005

De volta à infância

É comum dizer-se que na terceira idade se volta a ser criança. Em geral, os idosos ficam mais dependentes e frágeis do ponto de vista emocional. Voltam a fazer birras, alguns usam fraldas. Contudo, em tempos de eleições, os portugueses também mostram ser crianças.

Os pais ensinam aos filhos uma série de valores. De especial importância, são aquelas coisas que é preciso convencer as crianças a fazer (ou a deixar de fazer) mas que lhes causam desconforto, tipo comer a sopa, lavar as mãos antes das refeições, não fazer birras, não comer doces até rebentar, não estar sempre à espera de recompensas a curto prazo, estudar, etc. Mesmo quando não é com os filhos, é comum os mais velhos terem uma atitude paternalista com o mais novos, eles têm ainda muito que aprender.

Contudo, estas virtudes da calma e do sacrifício provisório, para depois obter uma maior recompensa no futuro, são desprezadas pelos portugueses em termos políticos. Quem o diz (não explicitamente) é Luís Paixão Martins, responsável pelo marketing do PS nesta campanha eleitoral(ver aqui.).

Todas as banalidades que Sócrates foi dizendo limitaram-se a ir de encontro àquilo que os portugueses queriam ouvir. Ou seja, combater o desemprego, desvalorizar reformas e o estado da justiça. Sócrates, que se inspirou em Kennedy, não percebeu que a mensagem que este antigo presidente dos EUA deixou de relevante não foi a das novas fronteiras mas outra. Outra em que referia que os políticos deviam, para o bem do próprio povo, por vezes governar contra as opiniões desse povo.

Vamos ver se Sócrates tem coragem de ser impopular, espero que sim. Mas sendo os portugueses politicamente infantis, para os satisfazer mais não basta que o equivalente de os levar ao circo ou dar-lhes uma playstation.

MC

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terça-feira, fevereiro 22, 2005

Constatações eleitorais

Se alguém tem seguido o que tenho escrito neste blog sabe que tenho sido crítico para Sócrates. Contudo, ele é agora o meu Primeiro Ministro e espero que faça o melhor possível. Duas constatações paradoxais. Por um lado, quase não existiram comemorações de uma vitória absoluta. Mas apercebo-me que em geral as pessoas estão mais alegres e esperam mesmo uma mudança. Parece que Sócrates conseguiu mesmo dar confiança às pessoas.

O regozijo pela derrota da “direita” é enorme. Sabe-se que isso explica muito do que aconteceu. A democracia parece-me claramente um sistema de compensações emocionais. Os maus foram embora, aqueles que povocaram o desemprego, os baixos salários, os preços elevados, a falta de chuva, o buço da mulher, a unha encravada, o aquecimento global, a falta de sorte, a preguiça, a excesso de peso...

Causa-me alguma perplexidade ver o discurso de Louçã ganhar adeptos um pouco por todo o lado. Aqui reside uma grande incógnita. Talvez a votação do BE seja uma coisa circunstancial e não se vote a repetir. Ou então, muitas das pessoas que já admiram Louça, mas ainda não tenham tido o ímpeto de votar no BE, o façam nas próximas eleições. Vendo bem, somos ainda piores que os franceses e é natural que tenhamos também o nosso Le Pen que, por razões históricas, não poderá ser à extrema-direita mas extrema-esquerda.

Sendo este um blog de curta tiragem, não é possível acompanhar a par e passo todos os desenrolares políticos. Há outros blogs que o fazem muito bem. Contudo, não deixarei de ir comentando os aspectos que achar mais relevantes.

MC

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Aniversário

Já anteriormente tinha dados os parabéns ao O Intermitente através dos comentários no Jaquinzinhos (link ao lado). Volto agora a assinalar os 2 anos de vida deste blog, porque é uma das referências mais me abriu os olhos para as questões do liberalismo.
MC
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sexta-feira, fevereiro 18, 2005

A Grande Questão

Quais serão as grandes motivações para a maioria das pessoas votar no PS? Na minha opinião não tem nada a haver com o facto do líder ser José Sócrates, nem com o conteúdo do programa eleitoral, nem sequer com os ideais de esquerda e muito menos com as propostas apresentadas. Tendo em consideração que o país está numa situação financeira muito delicada e que temos problemas estruturais graves, seria natural que a maioria das pessoas votasse na direita, porque a direita dá prioridade à contenção financeira, exige mais trabalho, mais sacrifícios e tem coragem de avançar com grandes reformas estruturais. No fundo os partidos de direita encaram os problemas de frente e tentam resolvê-los, mesmo que isso implique tomar medidas impopulares. Mas essa postura frontal é contrária ao sentimento actual da maioria dos portugueses, que já está de tal modo desmotivada que exerce grande resistência à continuação de políticas que impliquem perda de regalias ou outro tipo de sacrifícios. As pessoas têm consciência de que a situação é grave desde que o governo Guterrista saiu em colapso. Mas se no momento inicial penalizaram fortemente o PS e deram um mandato à direita para “endireitar” as coisas, passados 3 anos de provações e angústias têm vontade de dizer basta! Estão cansadas de políticas que degradam a sua qualidade de vida, ainda por cima sem resultados práticos e consideram que chegou a hora de fazer uma pausa neste processo. Ainda por cima estão fartos de serem governados por uma direita liderada por pessoas com pouco carácter. Conjugando estes factores, a maioria das pessoas vai votar PS mesmo sem pensar nas consequências. Nem lhes interessa saber que vão eleger as mesmas pessoas que puseram o país à beira do abismo, e que essas mesmas pessoas propõem repetir as mesmas barbaridades novamente. Até acho que a maioria nem se apercebe que vai votar de modo irresponsável, como se fossem crianças. Se derem a escolher a uma criança doente se quer levar uma injecção, a criança vai obviamente escolher que não, porque sabe que vai doer. No entanto se Portugal não continuar a ser fortemente medicado, vai acabar por morrer de doença. É verdade que votar na direita é quase como dar um tiro no pé, porque os seus líderes não são propriamente um exemplo de seriedade e competência. No entanto mais vale dar um tiro no pé, do que um tiro na cabeça. Por isso o meu voto vai claramente para a direita. Mas como quem vai ganhar é o PS, só me resta ter esperança de que tenham aprendido alguma coisa com o passado e que desta vez consigam recrutar bons independentes para formar um governo que continue a seguir uma dieta rigorosa e que implemente reformas estruturais.
JD
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Teste à minha ignorância

A subida do PS ao governo irá ser um bom teste ao que tenho aprendido nos últimos anos em matérias de política e economia. Em grande parte, devo essa aprendizagem a vários blogs e ao incansável trabalho e dedicação que os seus autores colocam numa actividade não paga, disponibilizando informações e estímulos que tenho tentado absorver. A pergunta que me faço é se, depois de andar quase 2 anos a ler blogs, aprendi eu de facto alguma coisa.

Irei testar a minha ignorância com a “nova” governação socialista. Se aprendi algo e Sócrates aplicar mesmo aquilo que sugere, então teremos maus resultados. Há sempre que conjugar isto com a conjuntura internacional, tendo em conta a natural inércia que produz atrasos, bem como a toda uma série de factores sempre em disputa. Contudo, a margem de manobra afigura-se tão pequena que os erros que se esperam não poderão ser camuflados como na anterior governação guterrista.

Caso os resultados sejam favoráveis daqui a 3 ou 4 anos, então terei de perceber que afinal não aprendi nada. Terei que admitir que andei equivocado e começar a aprender tudo de novo. Seria agora natural dizer que preferia estar errado, porque isso significava ser o melhor para o país, mas não há a mínima coisa que me faça crer que governação socialista será globalmente positiva. Contudo, o que sempre defendi é que as crenças, desejos ou simples “achismos” devem sempre ser postos de lado se forem negados pela realidade. A ela tentarei continuar atento.

MC
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quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Teorias da conspiração

Santana Lopes tinha um sorriso enigmático quando deixou a sede do PPD-PSD. Após ter feito a sua declaração à comunicação social, onde saudou o PS e Sócrates pela vitória nas eleições legislativas, surpreendeu alguns dizendo que não se demitia e iria ser o líder da oposição.

Saiu da sede sozinho, entando na viatura pela porta de trás do lado direito. Alguns minutos depois recebeu uma chamada no telemóvel.

«Professor?», disse Santana, «Esperava a sua chamada. Segui à risca as sua indicações, ninguém ainda desconfiou de nada.»

Num sinal vermelho a viatura parou. Lá fora gritavam “PS, PS!”, “Sócrates!”, “Fascismo nunca mais!”. «Tenho um pedido de chamada em conferência. Aceito? Ah, é ele, muito bem. Tou? Professor Aníbal Cavaco Silva, como está? Pois é professor, a nossa estratégia está a dar frutos. É uma pena que nos obrigue a fingir que estamos desavindos.»

«Meus amigos», interrompeu Marcelo Rebelo de Sousa, o terceiro homem, «ainda temos de percorrer um longo caminho.»

«Que sugere, professor Marcelo?», perguntou Santana.

«A nossa actuação tem de parecer o mais natural possível», continua Marcelo. «Daqui para a frente temos o PS como o inimigo comum e as nossas posições vão se aproximando. O doutor Santana Lopes vai aos poucos ganhando credibilidade como líder da oposição, não vai mais deixar-se fotografar para revistas cor-de-rosa. Entretanto, eu irei voltar aos comentários, agora na RTP.»

«E o que sugere para mim?», Indagou Cavaco.

«Calma, já lá vamos», continua Marcelo. «Primeiro de tudo, vou começar a arrasar a nova governação socialista, o que não vai ser difícil de tão má que irá ser. Para que ninguém desconfie, também o vou atacar, doutor Santana.»

«Outra vez professor?», perguntou Santana.

«Calma», prosseguiu Marcelo. «Sabe que é o melhor para si, doutor Santana. Vou dizer que estamos muito mal e o PSD não é alternativa. Vou até sugerir alguns nomes para o substituir. Percebam que isto serve apenas para colocar os portugueses desesperados, à espera de um novo salvador. Passadas algumas semanas começarei a elogiá-lo, doutor Santana. Vou dizer que me tem surpreendido, que tinha começado fraco e dpois foi subindo gradualmente. Que tem sido coerente e apresentado propostas sólidas. E aí começará a entrar o professor Aníbal.»

«Aguardo por isso», comentou Cavaco.

«A estratégia para si, professor Cavaco tem de ser o mais traiçoeira possível», continuou Marcelo. «Pela minha parte, irei sempre dizer que é o meu candidato. Deverá falar pouco professor, está acima dos partidos, não se esqueça. Quando for eleito para a presidência há só que preparar o caminho para a dissolução da Assembleia da República.»

«Que argumentos deverei utilizar?», perguntou Cavaco.

«Exactamente os mesmos que utilizou Sampaio», respondeu Marcelo. «Todos e nenhum, não se preocupe, eu irei dar-lhe os argumentos. Vou traçar um quadro negro do país e explciar em 10 pontos as razões da dissolução ser inevitável. E até digo que foi em boa hora porque o doutar Santana tem revelado estar à altura.»

«E em que momento irá isso ocorrer?», questionou Santana.

«Palpito que a governação socialista não deva durar mais que 2 anos.» Continuou Marcelo. «E como sempre, os maiores críticos serão os da própria esquerda, incluindo a do PS. Só temos que esperar que eles cometam o suicídio político. Daí à sua eleição, doutor Santana, é um passo.»

«Mas professor Marcelo», interrompeu Cavaco, «não quer ser você antes candidato a Presidente da República?»

«Ou a Primeiro-Ministro,» sugeriu Santana.

«Não, meus amigos», respondeu Marcelo. «Eu quero mesmo estar num lugar que tenha poder, ou seja, na comunicação social.»
MC
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quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Conversas de passagem

Ouvindo de passagem, pessoas com acesso a todos os meios de informação dizem barbaridades como:

“Sócrates é muito extremista, devia acalmar e juntar as suas ideias às do Louçã.”

“A idade das reformas devia de baixar.”

“O Louçã onde deu-lhe forte (ao Santana) com aquela das isenções aos bancos.”
Uma pequena amostra de conversas que tenho de ouvir todos os dias, de pessoas que lêem jornais e se acham esclarecidas. Para aqueles que acham fácil fazer reformas liberais em Portugal, penso que deviam pensar melhor.
Também fica óbvio quem ganhou o debate. Louçã, por ter mentido, foi o vencedor.
MC
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Campanha Eleitoral XII

Não me vou alongar muito. Essencialmente penso que quem vota o faz por razões emocionais e a razão está largamente afastada do processo. No começo dos posts sobre a campanha eleitoral parti com a ideia que PS e PSD não divergiam muito nas suas propostas, nem os seus líderes eram muito diferentes. Também eu parti envenenado contra Santana Lopes, mas agora as coisas parecem-me bem claras.

Pelo debate de ontem concluí, sem qualquer margem para dúvidas, que o PS faz parte do problema e não da solução. É certo que a coligação não consegui de forma alguma resolver os graves problemas que temos, mas uma nova governação PS só os irá piorar bastante. O problema de Sócrates e do PS é que acreditam mesmo naquilo que propõem. Basicamente, estão dispostos a sacrificar o princípio da realidade porque têm boas intenções. O PS vai fazer uma imensa terapia global com a distribuição de dinheiro. Aguardo, sem muita expectativa, pelos resutlados.

MC
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sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Roturas

Dizer que a História se repete é algo muito vago. Sendo picuinhas, nada se repete, cada acontecimento é único. Por outro lado, são infindáveis os paralelos entre acontecimentos do passado e aqueles que agora percorremos. Mas podemos pegar em pedaços de História dispersos e rapidamente verificamos que nada daquilo nos serve, tem muito pouco a ver connosco. Serve isto para dizer que, por vezes, acontecimentos históricos voltam a suceder-se, de forma aproximada. Mas esses acontecimentos não se repetem da mesma forma e por vezes repetem-se apenas até determinada fase e, depois, tomam rumos que nada têm a ver com os do passado.

Sendo assim, servirá de alguma coisa fazer futurologia baseado em paralelos do passado? De certa forma, há um século atrás vivíamos numa situação de impasse semelhante à actual. Até de défice se falava e da mediocridade dos políticos. Não faltavam opiniões que apontavam o que estava mal e o que se devia fazer. Contudo, as soluções óbvias não foram aplicadas, continuando-se com o mesmo paradigma até atingir o ponto de rotura. Hoje em dia as roturas serão diferentes, não haverá golpes para destituir a monarquia ou instituir o Estado Novo e nem mesmo para um novo 25 de Abril.

Portugal é um país sem energia. Caminha alegremente para uma rotura, talvez acreditando num milagre salvador de última hora. Talvez nem se preocupando se o pior acontecer. Mesmos os mais lúcidos e esclarecidos não têm força suficiente para gritar alto, para tomar rédeas, para avançar com novas possibilidades. Não é por acaso que temos uma das mais baixas taxas de natalidade do mundo. Não é egoísmo, não. É exactamente o oposto, já nem egoístas conseguimos ser.

MC

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segunda-feira, fevereiro 07, 2005

Campanha Eleitoral XI

A campanha eleitoral mostra, mais uma vez, que o país só consegue chorar com o olho esquerdo. Falo da chamada campanha suja do PSD. Mas convém fazer já um esclarecimento prévio. Considero de todo repugnável a tentativa de aproveitamento de boatos e fazer insinuações sobre a vida privada. Não sei se o PSD tenta fazer isso, como afirma o PS. Contudo, penso que a reacção ao cartazes “sujos” do PSD ser a maior mostra de hipocrisi a dos últimos anos. Tudo o que direi de seguida é com a assunção de que os cartazes o PSD(e refiro-me apenas aos cartazes) não têm qualquer mensagem subliminar que se sustente na “boataria”.

Vamos por partes. Se a campanha “suja” é bem conseguida, tenho dúvidas. Não sei se é eficaz, mas não vejo porque possa ser ilegítima. Se os cartazes “sujos” são um precedente, não o são todo o tipo de truques sujos feitos desde que me lembro. Mas alguém pode negar que ser oposição em Portugal é apenas uma sequência de actos “sujos”, de tentativas de fazer querer que os adversários são demónios?

Soa-me completamente falsas as lamúrias do PS. Coitados, nunca atiraram a primeira pedra... Mas têm feito outra coisa? Não vive o PS do constante denegrimento do PSD? Não vive a esquerda do constante insulto, de afirmar que a direita é responsável por todos os males do mundo? Se a direita descobriu agora a campanha suja, a esquerda já a utiliza há 30 anos, ininterruptamente.

Mas não estou a ser rigoroso. Na verdade, Paulo Portas é um dos maiores vultos da “teoria e prática da sujidade política”. E o PSD na oposição também não joga limpo. Em geral, pode dizer-se que a política em Portugal é suja, por natureza, com algumas excepções.

Dizer que os cartazes do PSD abrem um grave precedente, como afirma Sócrates, é apenas vitimização hipócrita. Sócrates diz que o PS não faz campanha pela negativa, falará pouco do passado, preferindo apresentar as suas propostas. Aparentemente é verdade, têm falado pouco do passado. Mas porque será? Será mesmo porque são pessoas decentes? Ou será que falar do passado é incómodo? Não será por medo das pessoas não terem a memória tão curta como isso? De poderem se lembrar com facilidade que a difícil situação do país em muito se deve à governação do PS?

Entre os slogans vazios do PS, que anunciam um novo salvador e a campanha “suja” do PSD, que pergunta se queremos que os indivíduos do PS voltem ao poder, eu fico mais sensibilizado por esta última. Eu não quero que eles voltem para o poder, até já tinha aqui antes dito que mereciam estar presos. Contudo, que alternativa tem Santana Lopes para oferecer? Infelizmente, também é muito pobre.

Há ainda um último mito a desfazer. Muitos falam que nos partidos e na sociedade há muita gente capaz, mas infelizmente não tem chegado aos lugares de maior relevo. Lamentam-se, “Pobre país o nosso”, que apenas pode escolher entre os medíocres Santana e Sócrates, estamos entregues aos SS... Mas não concordo. Nada me prova que há melhor que Santana e Sócrates. O que sei é que há muitos que se acobardam e não querem dar a cara u preferem a posição fácil de apontar as falhas. Santana e Sócrates terão pelo menos o mérito de não terem desistido. Quer queiramos, quer não, são as nossas melhores alternativas.
MC
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quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Campanha eleitoral X

O debate à americana entre os dois candidatos a primeiro-ministro mostrou algo que devia envergonhar os portugueses. Quem assistiu a algum dos debates da campanha americana pode comprovar tanto Bush como Kerry ficariam a anos-luz de qualquer destes dois que nem merecem que lhes escreva o nome. A pobreza franciscana foi avassaladora. Medrosos, nunca se atreveram a defender algo com convicção.

Diria mesmo que basicamente deram as mesmas respostas às perguntas, tentando diferenciar-se mas sem saberem como. E as respostas mais não eram que divagar sobre os assuntos, raramente apresentando propostas. Completamente inaceitável, se fossemos um povo com espírito crítico. Mas não somos, e é talvez por isso que gostamos de criticar os americanos, com exemplos avulso, mas sem reparar que comparados com eles, nós é que somos os mentecaptos.

MC
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quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Novas formas de vida

Vejo que há um estilo consistente em certos comentaristas de certos blogs:
Um insulto vale mais que mil palavras.
MC
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Campanha Eleitoral IX

A entrevista de Sócrates ontem na RTP teve para mim duas partes. A primeira parte foi lamentável, com a questão dos famosos boatos (é curioso mas sei quase nada sobre eles). Falou para Portugal inteiro como se o país fossem apenas as pessoas que andam a navegar pela net. A minha consideração pessoal por Sócrates desceu bastante, quando tentou fazer-se de vítima e mostrar-se indignado. Que Santana Lopes faça estes números, percebe-se, está-lhe no sangue. Mas Sócrates pareceu-me estar a representar aquilo que treinou face ao espelho, para parecer convincente.

Pouco depois, na Sic Notícias um indivíduo do PS, que não consigo identificar, mostrava-se ainda mais indignado, só faltando avançar com ameaças físicas contra o PSD. Que a campanha do PSD tinha envergado pela negativa, já se sabia. Não é algo que se aprecie em Portugal, apesar de sermos um povo dado à má língua. Que essa campanha tenha também aproveitado a onda de boatos, é algo discutível. O que acho indiscutível é o PS ter de facto entrado na campanha dos boatos, neste caso como vítimas. Sinceramente, pensei que isto fosse coisa que os principais lideres partidários decidissem entre si e fizesse um comunicado conjunto, repudiando os boatos e passando depois apenas às questões políticas.

A segunda parte da entrevista pareceu-me bastante mais positiva. Sócrates, apesar de não me parecer muito seguro, estava confiante e enérgico. Avançou com poucas propostas, o que apreciei. O choque tecnológico, renomeado plano tecnológico, foi apresentado em moldes mais razoáveis. Sócrates falou mais em termos uma organização diferentes de dinheiros, ao invés de mais investimento. Continuará a ser dinheiro a ser mal gasto mas ao menos não aumenta tanto o buraco.

Pareceu-me também suficientemente realista, não atacou muito a coligação nos aspectos da governação, chegando mesmo a concordar com Bagão Félix no caso das execuções fiscais ao pessoal da bola. Avançou com duas linhas de acção relativamente inócuas, o ambiente e a protecção aos deficientes. Coisas bonitas de dizer mas que qualquer um o podia fazer.

De certa forma, fiquei com a ideia de que tudo está em aberto, que muito dependerá do elenco do governo. E isto é mesmo uma grande incógnita. Porque dentro dos seleccionáveis de Sócrates estão muito putativos ministros despesistas e que ainda acreditam que com engenharias sociais se consegue alcançar algo. Mas também estão outros putativos mais realistas, que sabem que a sua função é criar condições para as pessoas serem mais livres e empreendedoras.

Mas há poucas razões para esta optimista. Porque os despesistas têm mais margem de manobra e parecem mais simpáticos. Os realistas têm, paradoxalmente, a realidade contra eles. Mesmo que saibam onde devem chegar, sabem que não conseguem lá chegar, com estes partidos, sindicatos, constituição, etc...

MC
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